quinta-feira, 21 de maio de 2009

Teoria Literária: O que é Crônica?

Se recorrermos à etimologia, perceberemos a crônica vinculada à noção de tempo (do grego chronos) ou, mais especificamente, para efeitos literários, de um breve registro de um determinado momento (a expressão latina chronica).
Modernamente, pode-se entender a crônica como um gênero discursivo em que o autor registra suas impressões sobre aspectos da vida hodierna, em especial, sobre episódios do cotidiano, estabelecendo a partir disso, uma relação de proximidade com o público leitor.

Embora inserida, normalmente em meio jornalístico, difere do texto noticioso, por estar impregnada da subjetividade de quem a produz. Mesmo tratando de eventos da realidade objetiva e dotada desse caráter de atualidade, traz consigo um olhar particular do escritor que lhe confere propriedade literária.
Por imbricar-se com a simplicidade das coisas da vida ordinária, cristaliza-se, de modo geral, em linguagem igualmente simples, despojada, o que corrobora a idéia de ser a crônica um texto despretensioso. Ademais, esse gênero afigura-se também despretensioso quanto a uma suposta perenidade presumida para a literatura em geral: é veiculado originalmente em meios como jornais e revistas, estando, a princípio, condenados à efemeridade de tudo aquilo que consideramos datado.

Curiosamente, é essa aura modesta, de “gênero menor”, que coloca a crônica na preferência do grande público, o que permite o estabelecimento de uma relação interessante entre o cronista e seu leitor: há uma certa cumplicidade, algo como um pacto implícito que se firma entre o colunista de um periódico e aqueles que se dispõem a lê-lo habitualmente. Alguns autores passam a adquirir certa estabilidade a partir de um estilo peculiar, já esperado por aqueles que consumirão seus textos.
Esse fenômeno faz com que escritores de destaque no gênero tenham seus textos reunidos e publicados em antologias. A crônica então passa de um veículo efêmero, periódico, para a perenidade dos livros em casos especiais como o de Rubem Braga, que se dedicou especialmente a essa modalidade textual.

É importante observar que o estilo singular de quem escreve, passa a ser muito mais definidor da crônica como a conhecemos hoje do que os aspectos formais do texto. Sobre isso, Luis Fernando Veríssimo, um mestre do gênero, reflete com seu habitual senso de humor:

A discussão sobre o que é, exatamente, crônica, é quase tão antiga quanto aquela sobre a genealogia da galinha. Se um texto é crônica, conto ou outra coisa interessa aos estudiosos de literatura, assim como se o que nasceu primeiro foi o ovo ou a galinha, interessa aos zoólogos, geneticistas, historiadores e (suponho) o galo, mas não deve preocupar nem o produtor nem o consumidor. Nem a mim nem a você.
[...]
Há uma diferença entre o cronista e a galinha, além das óbvias (a galinha é menor e mais nervosa). Por uma questão funcional, o ovo tem sempre o mesmo formato, coincidentemente oval. O cronista também precisa respeitar certas convenções e limites, mas está livre para produzir seus ovos em qualquer formato.


(In: VERÍSSIMO, Luis Fernando. O Nariz e outras crônicas. São Paulo, Ática, 1998. pp.3-4)


O conceito de crônica, portanto, passa pela dificuldade de se precisar características formais uniformes, mas respeita certas convenções, como forma de expressão consagrada e reconhecida em suas especificidades.

A crônica pode ser conceituada, portanto, como gênero discursivo breve, escrito de forma livre e pessoal (podendo assumir traços dissertativos, líricos, narrativos, descritivos ou uma combinação deles), veiculado originalmente em periódicos e que tem como temas, via de regra, fatos ou idéias da atualidade. Pode, portanto, assumir traços dissertativos, líricos, narrativos, descritivos ou uma combinação deles.

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